Perguntas e Respostas

A ButanVac é uma vacina de vírus inativado, uma das tecnologias mais seguras em imunizantes. Ela funciona da seguinte forma: o vírus é cultivado e multiplicado em ovos, depois inativado por meio de produto químico. Assim que uma pessoa recebe a vacina com o vírus já inativado, seu organismo começa a gerar anticorpos. Como o vírus está inativado, ou seja, morto, ele não transmite a doença e nem provoca sintomas, apenas aciona o sistema imunológico. A tecnologia da ButanVac utiliza um vetor viral que contém a proteína Spike do coronavírus de forma íntegra. O vírus utilizado como vetor é o da doença de Newcastle, uma infecção que afeta aves. Por esta razão, o vírus se desenvolve bem em ovos embrionados (que são utilizados como matéria-prima), permitindo eficiência produtiva num processo similar ao utilizado na vacina da gripe. Em contraste com o vírus da influenza, o vírus da doença de Newcastle não causa sintomas em seres humanos, sendo uma alternativa muito segura.
Tudo começa com o recebimento e descarregamento dos ovos, matéria-prima para a produção da vacina. Os ovos passam por um processo de ovoscopia, realizada por meio da aplicação de luz de forma individual, para avaliar a qualidade do embrião. Depois, uma solução que contém o vírus é colocada em cada ovo. Os ovos são acondicionados em incubadoras para que seja realizada a inoculação em si (introdução do vírus inativado), e voltam para as incubadoras, onde ficam por aproximadamente 72 horas, para que a multiplicação viral aconteça. Posteriormente, são encaminhados para o resfriamento, onde ocorre a eutanásia do embrião. Na próxima etapa, colhe-se o líquido alantoico do ovo, onde está concentrado o vírus replicado. Esse líquido passa por um processo de purificação, é inativado e filtrado. Nessas etapas, são retirados componentes como hemácias, proteínas que não são interessantes para a vacina, e água. Também nessa etapa o vírus é inativado. Em cerca de 11 dias é obtido o monovalente finalizado, ou seja, a matéria-prima da vacina ou Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), que fica armazenado em câmara fria. Por último, a solução é enviada para a formulação e envase, onde é colocada em frascos, vedada, rotulada e embalada.
A tecnologia do vetor viral baseada na doença de Newcastle foi desenvolvida por cientistas dos Estados Unidos, na Icahn School of Medicine de Mount Sinai, em Nova York. A proteína S estabilizada do vírus SARS-CoV-2 utilizada na vacina com tecnologia HexaPro foi desenvolvida na Universidade do Texas em Austin. A partir do momento que a vacina se mostrou viável, a organização norte-americana PATH Center for Vaccine Innovation and Access estabeleceu as pontes com fabricantes de vacina de países emergentes para o desenvolvimento clínico e produção. O Butantan é um dos produtores responsáveis por realizar os estudos clínicos da vacina, escalonar, padronizar os processos produtivos e fabricá-la localmente, possibilitando a imunização em massa.
Sim. Todos os processos produtivos, desde a qualificação dos ovos embrionados, inoculação, crescimento viral, processamento e purificação viral, inativação, formulação, qualificação, controle de qualidade, produção em escala, envase, rotulagem, registro sanitário, são realizados pelo Butantan. Além disso, os estudos clínicos que permitirão à Anvisa aprovar o uso da ButanVac no Brasil são responsabilidade do Butantan.
Não. Ela é a primeira vacina em fase de estudo clínico a usar uma nova estrutura molecular que, esperam os cientistas, deve gerar anticorpos mais fortes do que os das atuais vacinas contra a Covid-19. Outro benefício é na potência: as pesquisas indicaram ser necessária uma quantidade menor de vírus para alcançar uma dose efetiva. Com isso, um único ovo poderia gerar de cinco a dez doses – enquanto as atuais vacinas de influenza produzem de uma a duas doses por ovo.
A ButanVac é uma vacina diferenciada justamente porque é fabricada com a mesma tecnologia da vacina da gripe (inoculação do vírus em ovos embrionados de galinha). A vacina da gripe é a mais utilizada no mundo e tem um processo de produção barato, sendo que a maioria dos países emergentes contam com fábricas próprias. Além disso, como a gripe é uma doença sazonal, as instalações industriais onde a vacina é produzida ficam parte do ano sem uso. Usar essas fábricas paradas, localizadas em países em desenvolvimento, para produzir uma vacina barata contra a Covid-19 pode mudar completamente o jogo: as nações mais pobres contariam com uma opção para vacinar suas populações, seja pela produção própria, seja pela aquisição de imunizantes mais acessíveis. Se for provada segura e efetiva, A ButanVac, que é chamada internacionalmente de NDV-HXP-S, tem potencial de elevar em mais de 1 bilhão por ano a atual oferta de imunobiológicos contra a Covid-19, especialmente nos países em desenvolvimento.
Não. O desenvolvimento da ButanVac não afetará a parceria do Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac, nem a produção da CoronaVac. O acordo do Butantan com a Sinovac prevê a produção, até o final do ano, de 100 milhões de doses com Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) trazido da China e transferência de tecnologia. Depois disso, a vacina será produzida em uma fábrica que está sendo construída com o auxílio de doações privadas. A ButanVac, por outro lado, será produzida na fábrica de vacinas contra a influenza (gripe) do Butantan.
Não. A matéria-prima para a produção da ButanVac são ovos embrionados de galinha fornecidos por empresas brasileiras. E a fabricação da vacina é feita totalmente no Brasil, no parque tecnológico do Butantan, na mesma plataforma que o instituto usa há anos para fazer a vacina contra a influenza (gripe) e com a mesma tecnologia (inoculação do vírus em ovos embrionados de galinha).